quarta-feira, 18 de maio de 2011

Jet-pack

"Ei, Quejo. Acorda aí. Olha só o que a gente arranjou!"

"Ah, é cedo pra acordar. Poxa, eu só tenho o domingo de folga e esses malucos ainda vem querer bater na minha janela à essa hora da manhã. Na minha janela... espera, mas eu moro no terceiro andar, COMO É QUE..."

Abro a janela. Eles estão flutuando aqui na minha frente, com suas novas mochila à jato. Não muito surpreendente, pois são iguais à minha. Me surpreende mais que a rede de proteção da janela tenha sumido. Eu não lembro de tentar tirar ela desde 2002 quando eu tentara roubar jaca do vizinho com uma vara de pescar. Pena que ele tenha vendido a jaqueira... pena.

"Espera aí galera, já vou com vocês." Minha mochila à jato estava encostada a algum tempo, afinal, já há muito que eu não me deixo voar. Óculos de proteção, qual eu vou usar dessa vez? O de aviador da Segunda Guerra seria muito legal, pra estrear, mas não é muito prático e eu tenho medo de estragar. Os de motoqueiro, meus favoritos, então? Não... melhor o de snowboard, porque dá pra usar os óculos por baixo. É, esse mesmo (não quero perder nenhum momento por estar com a vista embaçada). Agora é só pular pela janela e voar!

"Marcelo", surge minha mãe na posta do quarto, "o senhor que não pense em voar pela janela. Vá pela laje do prédio conforme nós conversamos."

"Tá bom, mãe." Pfff, que saco. Por que inferno eu não posso simplesmente voar pela janela? Já fiz tanto isso, é tão mais fácil. Pois bem, vou até a laje com minha mochila à jato e meus goggles, que o pessoal está me esperando.

Aliás, quem são eles mesmo? Não sei, o sol tapou seus rostos. Não interessa, são meus companheiros de vôo.

Chegando à laje, vários pedreiros trabalhando. Devem estar finalmente fazendo uma piscina ou algo de interessante que desafia todas as leis da física, da arquitetura e da estética, mas é só o serviço deles e afinal esses arquitetos da cidade parecem nunca saberem o que fazem, botando prédios e mais prédios onde deveriam haver simples choupanas.

Mas certo, é hora de voar. Olho para o alto, vejo o Sol, e dou meu primeiro impulso. Minha mochila tosse, como se faltasse combustível. Tento de novo, mas não passo de meio metro do chão. Mais uma vez, uma volta em parafuso. Minha mochila não quer mais funcionar. Não vou voar.

Eis que surge minha madrinha Cilmara pela porta de entrada da laje e me pergunta "Marcelo, você lembrou de colocar a mochila à jato meia hora antes de usar?"

"Ah", olhei pra ela, "não lembrei não."

"Desculpa pessoal, vamos ter que fazer outra coisa que eu possa voar. Alguém quer jogar videogame?"

Bzz, bzz, bzz.
Cade a droga do botão da soneca?...

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