segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Oitenta minutos andando na chuva

...te fazem pensar

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Eu cresci meio que me reprimindo. Sabe, até em coisas pequenas, nunca me esforçava ao máximo nos video games porque não gostava de ver os outros perdendo. Nunca me esforçava para ser o primeiro em alguma coisa, por achar que outros ficariam melhor em tal condição. Nunca me poupei de emprestar coisas, mesmo que meus coleguinhas não tomassem uma droga dum cuidado.

E, conforme eu fui crescendo, fui sentindo o peso dessa auto-repressão que eu colocava a mim mesmo.
Cresci como uma pessoa realmente muito conformada. Tudo sempre esteve muito bom do jeito que esteve. Nunca precisei me esforçar muito, nunca precisei lutar por alguma coisa. E isso só serviu pra me deixar mais e mais acomodado.

Então eu aprendi que não é bem assim, e tive que enfrentar alguns obstáculos que apareceram de repente. E foi assim que eu percebi que as coisas não eram tão cômodas como eu estava acostumado. E esse impacto foi, em grande parte por causa da minha já presente negatividade, negativo. Eu comecei a duvidar cada vez mais da minha capacidade. Do meu potencial. Do meu talento.

Perdi amigos por causa da minha arrogância e estupidez.
Ganhei amigos novos, os quais eu não trato como merecem por causa da minha arrogância e estupidez.

Meu modo de ver o mundo é cada vez mais egocêntrico e pessimista. Qualquer espécie de auto-afirmação e faz sentir enojado, inclusive essas que eu mesmo escrevo. As pessoas, todas tão medíocres, querendo se fazerem especiais.
É isso, não é aquilo, blá blá blá. É tudo tão besta.

E cada vez mais e mais eu me sinto só como uma parte da grande massa. Cada vez mais e mais eu passo a desconfiar dos meus supostos talentos, cada vez mais eu me sinto mais isolado, mais ilhado. Nada de especial, só mais um.

De novo eu me conformo com a situação e creio poder levá-la exatamente como é para os próximos passos.
Cada vez eu sinto ambas minha mente e alma mais e mais vazias e cansadas.
E é assim que tem que ser, pois eu me criei assim. Eu não vou mudar pois eu me criei assim. E eu não quero a sua opinião também, porque eu me criei assim.

Outro dia eu parei pra pensar, "como você se vê daqui dez anos?", exatamente como eles fazem nalgumas entrevistas de emprego.
E foi seguindo essa linha do que eu estou me tornando que eu me vi no futuro.

Vinte e oito anos. Alguns sinais de velhice prematura, careca, rugas e olheiras. O cabelo, que já está ralo, é bem cortado e fixado com gel (aquela maneira que eu sempre odiei). Não sorri, não se expressa, não tem imaginação. Não tem brilho nos olhos.

Mora sozinho num apartamento de dois cômodos. Não tem companheiros, animais de estimação nem nada, o egoísmo talvez não permitisse, talvez fosse simplesmente o medo de perder que o fez se afastar de todos.

Vai para o trabalho cedo. Não conversa com muitas pessoas além dos colegas. Não faz o que gosta - faz o que sabe fazer.
Almoça sozinho. Os colegas não o chamam para o happy-hour. Não gosta de beber, muito menos de sair.
O contato com as pessoas é desagradavel. Prefere ir para casa e se fechar até o próximo dia. Não vê os velhos amigos, não vê a familia. E continua assim, dia após dia, apenas existindo.

E o pior, parece gostar disso.
Não que ele esteja sorrindo - ele não faz isso com muita frequencia - mas ele aproveita.
O contato pareceu cada vez menos necessário, talvez até de certa forma dispensável.
A distância que ele sempre quis ele alcançou. A solidão independente, também. A consistência da rotina, que ele sempre preferiu, agora é soberana.

Nada de diferente acontece.
E é isso mesmo que ele quer.
E cada vez eu tenho menos medo de que meu futuro realmente seja assim.
A cada diz que se passa eu me decepciono mais e mais, e não por não tentar, pois quanto mais eu tento mais eu me decepciono.
Qualquer tentativa minha é falha, acaba por não terminar, acaba decepcionando a mim e a outras pessoas.
Quanto mais eu tento ser humano, mais eu tenho medo do ser humano. E creio que vou acabar cada vez menos humano. De uma forma que vive a simplesmente uma forma que existe.

E realmente, não me parece tão ruim assim.

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Talvez eu esteja over-reagindo, mas que seja. Todo mundo tem que ter alguns momentos para 'cair na real'. Eu mesmo fiquei em dúvida se devia ter publicado isso ou não, mas achei que devia pois estaria sentindo um peso a menos sobre meus ombros.
De qualquer forma, como eu não quero conversar sobre o assunto, os comments vão ficar bloqueados e tentativas de tocar no assunto serão respondidas com o código ameixa. Insistências serão respondidas rispidamente. Bla bla bla.